quinta-feira, 30 de julho de 2015

Poupem-me, pela vossa saúde!!!!!






Mas porque é que ninguém entende exactamente isto? Porque é que ninguém entende que há dias que não se consegue pachorra nem para nós quanto mais para os outros e que isso é completamente perceptível na mais pequena ruga do nosso rosto?

E é exactamente nesse tempo desprovido de paciência, vá-se lá saber porquê, também não interessa para o caso, que a manicura enceta este diálogo com ela própria, convencidíssima que eu escuto a riqueza imensa  do seu monólogo:

- Ah, sim, porque eu acordo cedíssimo ele ainda acorda mais cedo mas não há como perceber o atraso dele... mas sabe, eu sei porquê; ( pois, eu não e não  faço a mínima ideia nem quero saber, ainda não percebeu? ) É por causa do tablet! Anda com ele  para todo o lado até para tomar banho e quando está a fazer as necessidades dele! (Cale-se!!!! Poupe-me aos pormenores, criatura de Deus!!!!Nosssssssssa tanta merda no discurso e eu sem culpa nenhuma!!!!!)

E depois, olha para mim, desviando o olhar do meu dedo, com o alicate de corta peles em riste, (como é possível?!?!?!) à espera que eu lhe devolva com certeza um comentário qualquer, um daqueles que é expectável dada a pertinência da rotina matinal do individuo.

- É o meu dedo que tem entre os seus dedos, importa-se de estar atenta? Digo eu com um sorriso feito esforço mandando-a para o nome completo do meu blogue!

- Ahahahahah!!! Não se preocupe eu sei  fazer bem feito duas coisas ao mesmo tempo!

- Não duvido ! Só o seu marido é que não sabe!!!

E saio de lá com um sentimento tremendo de culpa falando comigo própria:

- Mas porque c@$@!?*$ logo hoje resolvi arranjar as unhas, porque???

... e eu não digo asneira!!!! imagina se dissesse....


mp&c




segunda-feira, 6 de julho de 2015

A barata na terapia!







Não vou brincar com este tema!

Aliás, para mim este tema é importantíssimo, tendo em conta  o descontrolo que prevalece na maior parte das vezes quando há a simples suspeita de existência de tal criatura!

Não sou histérica perante o visionamento de  uma tal de "blataria" ou "blattodea" mas, colocada perante este insecto rastejante que às vezes também é voador não é, de todo, uma imagem com a qual eu conviva confortavelmente  e que me seja  indiferente; 

O que me  vem relembrar  um episódio no meu espaço de atendimento em que, perante o silêncio de um paciente que se permitiu  entristecer deixando rolar pelas suas faces lágrimas silenciosas, permitiu-me, respeitando o seu espaço mental de entrega ao lamento, ouvir nitidamente, sim, nitidamente, porque o chão era de madeira, um correr ligeiro de várias patas, mesmo que envolvidas por uns pelos que quase "veludam", um parar repentino e um correr novamente que, já alertada por um movimento rápido de um vulto minúsculo ao entrar no meu consultório, deu para, através da visão periférica, reparar que uma dessas espécies deambulava por ali, provavelmente envolvida pelo ritmo terapêutico e também ela, se calhar,com algo por resolver.

Apanhada de surpresa, com todo o meu eu a descontrolar-se,  não pelo ilustre visitante ( em contexto terapêutico só existe quem está à minha frente!)  mas pelo impacto que causaria tal insecto naquele momento tão importante de catarse, caso o paciente o visse, fiquei, por instantes, impotente face a este cenário! Em fracções de segundos entabulei este diálogo comigo própria de forma a conseguir encontrar uma solução imediata para esta situação:

- O que é que eu faço?
- Sei lá!!
- Interrompo a sessão?
- Não!!!
- E se a barata desata por aqui a correr entre o espaço que nos medeia, o que é que eu faço?
- Sei lá!!
- Ela parou! Onde é que ela está? Ai!! Meu Deus!!! está mesmo aqui ao pé do meu sapato!Esmago-a?
- Que nojo!!!!
- O meu paciente não está a olhar!!! Não a vejo!!!! Ai!!!! Para onde ela foi? E se o paciente tem fobia às baratas?
- Mata-a e disfarça!
- Como?
- Pisa-a!
- E depois, quando o for levar à porta, vou com ela esmagada no meu sapato? Nem consigo imaginar!!

Neste intervalo de pensamentos desconcertantes, o paciente levanta a cabeça, olha para mim, enxuga as lágrimas e diz-me:

- O que é que eu faço com esta dor, Dra!

Sem saber bem como, desce a psicóloga que há em mim, tiro o sapato, seguro-o com firmeza  na mão, empunho-o com segurança e cheia de certezas  digo-lhe, ao mesmo tempo que desfaço sobre a barata um duríssimo golpe que a esmaga totalmente: 

- O mesmo que estou a fazer agora com esta barata que nos interrompeu a sessão... esmaga-mo-la, desfazê-mo-la, apanhamos os restos e deita-mo-la na sanita... vai levar uns dias ... não vai ser tão rápido quanto o trato a este insecto mas, em conjunto, vamos conseguir fazer isso!!!

No olhar do meu paciente perante o meu ar, sapato na mão, barata esmagada, lenço de papel para apanhar os restos, por instantes, não vi tristeza; vi surpresa, olhar arregalado e, sem nos apercebermos quem iniciou, demos espaço a uns bons minutos de gargalhada contagiosa que permitiu, por momentos, retirá-lo da dor e conseguir rir do momento...

Neste meu espaço, que é meu e de quem me procura, também há espaço para o humor...

mp&c