quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Pai que é pai...




Aqui pelos meus lados, num diário constante de carências afectivas, pela ausência, pela presença, pela presença mas em ausência de figuras parentais nos dias que antecederam desde sempre a nossa adultez, vou contendo, suportando e trabalhando, muitas horas de pai ou, falta de pai!

Pelos meus lados e pelos lados da maior parte dos psicólogos que beberam mais significativamente a abordagem dinâmica, costumamos dizer, em tom jocoso,  que " a culpa é sempre da mãe"! Se é que há, neste processo tão complexo de crescimento, culpados!! Mas enfim, afinal de contas, num processo natural,  o pai também existe...

E hoje, ao vir pela manhã, agoirando um dia cheio de sol, calor e acompanhada por esta  paixão enorme pelo que faço, voltei a pensar o pai numa realidade infantil!

Isto porque, junto ao endereço onde exerço, como em vários endereços por aí espalhados, localiza-se um colégio que vai desde a primária até ao 12º ano! Todos os dias e até chegar ao meu local de trabalho, perco cerca de 5, 10 minutos no trânsito que se acumula, devido à logística diária parental com os  vários pais e mães a deixarem os seus filhos para mais um dia de escola  igual a tantos outros...

Engraçado como me lembro do primeiro dia de escola da minha filha,onde eu, mais do que ela, respirava ansiedade, angústia e até mesmo pânico deste "primeiro dia do resto da sua vida..." passados tantos anos, ainda na semana passada, este sentir voltou. Numa outra fase, tanto minha quanto dela,  a mesma frase, bailou ao ritmo da vida dentro de mim, no seu primeiro dia de trabalho: " hoje é o primeiro dia do resto da tua vida..." ( grande Sérgio Godinho que escreveu isto há anos...)!
Coisas de mãe...


Bom, voltando ao tema, estando eu parada no trânsito, pendente de mais uma criancinha que saía do carro ou atravessava a passadeira, reparei que, quem as levava pela mão ou as tirava do carro com jeitinho, eram sobretudo os pais!

Não que não o façam com cuidado nem cheios de afecto mas, a forma como as levavam ou, puxavam ou, arrastavam, claramente, e faço por pensar assim, tinha tudo a ver com este problema da maior parte da população "FALTA DE TEMPO"!! As correrias diárias...

Mas, ver estas crianças, puxadas pelo seu herói, com a força que cada um dos pais coloca nas suas preocupações, pôs-me a pensar sobre este sentir infantil: já não basta a angústia de separação, os medos do não retorno, a pressa de "despejar", ainda terem que acelerar para chegar à meta destas emoções extremadas!

E aí, assistimos a várias cenas:
- o filho/a que quase vai pendurado, enquanto tenta desesperadamente carregar a mochila;
- o filho/a que vai à frente fingindo que é mais capaz do  que o pai de encarar a separação;
- o filho/a  que vai à frente, ele próprio puxando o pai e o outro atrás com dificuldade de deixar-se levar;
- o filho/a que caminha ao lado, de mão dada, firme, tentando desesperadamente ter a mesma amplitude de passo que a do seu pai;
- e o filho/a que, afastado, não teme fazer birra, estar amuado, triste, porque, não que não queira  ir para a escola mas, a ausência e a separação implícita neste ir deixa-o assim, só, sem herói! 

Dentro deste universo adulto possamos nós, num hiato de tempo criado e feito pela nossa vontade de o fazer, parar e voltar a sentir criança...

mp&c



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