domingo, 29 de junho de 2014

O compasso libidinal da Kizomba...




Bom, inspirada  por  uma noite fantástica , muito bem acompanhada pela minha irmã e prima, três mulheres deliciosamente bem dispostas,  onde os sons de Kizomba nos envolveram, atacaram, não largaram e fizeram dançar, até a alma, resolvo lapidar por palavras esta coisa da “Quizomba/Kizomba” que remata corpos e transcende qualquer tipo de regra dançante!

Agrada-me este som… resquícios de uma infância entregue ao aroma e cheiro da terra vermelha molhada, aliena-me de ritmos actuais, não questionáveis, simplesmente imperceptíveis aos meus ouvidos delicados ;-)… E gosto de ouvir tudo o que por aí anda, por mais que se questione a qualidade do compasso, ou das notas, das letras...Oh! Estou-me nas tintas! Merda para os pseudo-intelectuais que se focalizam num estilo, defendem com ar de aristocratas mas que no fundo, adorariam o reboliço das ancas, num embalo de noite africana! Com todo o respeito! E como gosto…

Mas e nestas coisas há sempre um mas, reconheço que o compasso de uma” batida forte em ritmo 4/4, dado por um tambor grave como surdo, acompanhado por uma melodia dada por um prato de choque”  põe em choque quem dança e, quem vê quem dança e bem,  deixando-me, pelo menos a mim, na dúvida do que será que está por ali a acontecer: se é dança ou, uma maneira interessante de colocar os preliminares que antecedem uma valente noite de sexo, ali às claras de forma legal ;-)…

E eu dancei… Com quem me convidou, sim porque, isto de se ir a um espaço de Kizomba, é mesmo assim, é quase como nas festas de garagem do meu tempo em que, ou se olhava o outro que através de um tipo de olhar nos convidava para, ou, bastava um toque no braço se por acaso estivéssemos distraídas e lá embarcávamos em mais um deslizar ritmado. E dancei bem… não sou uma Sara Lopez, nem sequer qualquer uma  das  que vi por lá dançar que, não fosse o facto de serem  morenas eu diria que estaria perante a tal de Sara ao vivo, nem sequer tenho pretensões a, mas, tenho a batida no sangue, o ritmo no corpo trazidos pelas memórias delicadas e lindas de quem cresceu mesmo perto da sanzala e que se embrenhava por lá, comendo, dançando, rindo, vivendo…

E foi verdadeiramente encantador… e tive direito a tudo, salvo seja, ;-): o par, que respeitosamente se limitou aos passos básicos, com uma distancia entre os corpos suficientemente segura e que na repetição de convite já avançava para mais próximo, não fora a barriga proeminente; o par , convencido que percebe muito do estilo, que se mexe descompassadamente e que no fim, quando se afasta, coloca aquele ar de autentico profissional pelo  qual eu deverei estar eternamente agradecida por me ter preferido; o par que, languidamente, investia num ritmo de ancas de fazer corar qualquer um a quem eu, educadamente,  devolvi : - peço desculpa mas eu não sei dançar! E consegui convencê-lo disso por mais que ele insistisse em não acreditar. Mas, desistiu! 
E finalmente, encontrei um par, verdadeiramente delicioso, que sim, esse dançava, sabia dançar e o que o movimentava era mesmo a dança! E branco! Mania esta de que só as pessoas de cor tem o ritmo negro! E , mesmo com tropeções, porque a minha dificuldade em deixar-me controlar é grande, levou-me a acreditar que : - Afinal ,eu até levo jeito na coisa, "porra"! Nada como dançar com alguém que entende da safra! E, à preocupação de que eu pudesse ter algum problema com a excessiva aproximação do corpo, respondi-lhe: - Não! Porque deveria ter? ;-).

Afinal, Kizomba não é só um roçar de ancas em movimentos libidinais, é muito mais do que isso! É preciso de facto, que não se tenha problemas com o toque dos corpos e que se deixe fluir confiando ao corpo do outro, a direcção do nosso próprio corpo ao compasso do ritmo...

Já de madrugada, ao voltarmos as três para casa, coincidíamos em tudo o que sentíamos: tinha valido a pena; o divertimento prevaleceu sempre;a boa disposição tinha sido uma constante ; e que, mesmo cansadas, a repetição ficou marcada.
Afinal de contas, consegue-se dançar Kizomba sem ter necessidade de, respeitosamente, como dizia a minha irmã,  dizer ao nosso par:

 - Importa-se por favor de retirar o seu telemóvel do bolso!



Absolutamente delicioso!!!!!

mp&c


1 comentário:

  1. Bem! MPC

    meus parabéns por tal texto.

    com qual me deliciei, tendo sido a cereja no topo, a seguinte transcrição:

    "...E, à preocupação de que eu pudesse ter algum problema com a excessiva aproximação do corpo, respondi-lhe: - Não! Porque deveria ter? ;-).

    Afinal, Kizomba não é só um roçar de ancas em movimentos libidinais, é muito mais do que isso! É preciso de facto, que não se tenha problemas com o toque dos corpos e que se deixe fluir confiando ao corpo do outro, a direcção do nosso próprio corpo ao compasso do ritmo..."

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